Sermão: REVELAÇÕES DE RECURSOS PARA UMA OBRA ÁRDUA
Autor: Pastor Nils Friberg
Texto: Ezequiel 1.1-4, 26-3:15. Leitura pública: 1:26-2:5
Ocasião – Ordenação de Adriano Pereira de Oliveira, Igreja Batista do Belém, bairro do Belém, capital de São Paulo, 02 de julho de 1972.
Hoje à tarde, estamos na presença de Deus e de Sua Igreja, para pedir a bênção divina numa vida... Vida que Deus já separou ao serviço dEle, vida que demonstrou à Igreja sua idoneidade para a obra de pastorear vidas preciosas, vida que se destacou em testemunho oral e prática vivida no meio do povo de Deus, vida e doutrina apuradas diante de Concílio de representantes de diversas Igrejas da Capital.
Lembro-me bem da noite de novembro de 1962 em que as mãos foram colocadas sobre mim; as lágrimas corriam pelas faces, e os sentimentos fortes de indignidade, de incapacidade, e de estar diante de uma tarefa esmagadora, de gratidão a Deus, de temores e tremores – tudo isso me dobrava como vara ao vento ali naquela plataforma.
Mas hoje, quando as agruras me trazem dúvidas sobre minha chamada, quando tentações me sobrevêm, me dispondo a desistir da lida do ministério, a lembrança do fato de que a Igreja me encorajou e me deu ordenação, sinto-me animado para persistir na busca da ilibada meta de cumprir a carreira que Deus me propôs.
Irmão Adriano, queremos que a experiência da tarde de hoje possa te servir durante toda tua existência como estímulo, encorajamento e bálsamo ao coração. Que seja isso um filete de ouro de que se nunca perde vista mesmo que os anos corram, célebres e cheios de árduos serviços e lutas fatigantes, lembrando-te sempre que um dia, fostes separado a Deus por seu Espírito Santo, e ordenado pela Igreja Batista no bairro do Belém, da capital de São Paulo, ao dia 02 de julho de 1972.
Prezado irmão, tu estás sendo lançado para uma vida de serviço, de ministério, de sacrifício, numa igreja local, onde todos os potenciais e perigos da natureza humana e ameaças satânicas poderão se manifestar; esta igreja se encontra no meio de um povo, povo também capaz de tudo, dependendo de sua lealdade e submissão a Deus; esse povo, por sua vez, é cidadão de um mundo de povos – em dias dos mais palpitantes para se viver, mas ao mesmo tempo dias mais compenetrados de terror e incertezas. Como disse um famoso evangelista, é um "mundo em chamas" . O irmão é cidadão desse mundo, do Brasil, e desta igreja local. Jamais percas de vista as vastas implicações de tua posição!
Para entendermos um pouco mais destas verdades e vermos os recursos que Deus te oferece nesse âmbito, olhemos nesta tarde para a vida de um dos profetas do Velho Testamento menos conhecidos, talvez dos mais desentendidos. Falo de Ezequiel.
Na chamada de Ezequiel descobrimos recursos para enfrentar um povo obstinado, prevaricado, mentiroso e rebelde a Deus. Vemos um homem capaz de obedecer a Deus, até na hora da morte de sua esposa, usando a morte dela numa sermão do mesmo dia como ilustração da mensagem divina. Ezequiel recebera de Deus, antes de tudo isso, três revelações: uma revelação da glória de Deus, uma revelação realista da tarefa que o esperava, e uma revelação da graça divina que o capacitaria para a obra. São elas três revelações da parte de Deus que nós também necessitamos sempre, mas mormente na hora em que iniciamos a obra.
I. Em primeiro lugar, Ezequiel recebeu um revelação da glória de Deus que galvanizou seu ministério. Lemos com perplexidade a descrição da visão. Vem primeiro a aparição das criaturas que servem a Deus, semelhantemente àqueles que João, o Evangelista, viu nas suas visões celestiais. São criaturas maravilhosas, que se movem instantaneamente ao comando e capricho do seu Senhor. Manifestam também a variedade de ser dos servos de Deus. Ensinam-nos que os querubins que vivem na santa presença do Senhor do Universo, são de uma categoria elevadíssima em comparação à nossa, e que existe um grande desnível entre nós, homens pecaminosos e inermes, e a excelsa glória daquele Senhor.
Adriano, jamais devemos perder de vista a realidade deste quadro para o nosso coração. O caráter e glória do nosso Mestre e Senhor é o desafio, é o padrão, é a fonte de todas as comparações, de todas as mensagens, de toda a verdade ilibada. Desta glória a nossa vida, a nossa palavra, as nossas atitudes para com os outros devem constituir apenas reflexos, humildes mas fiéis.
Do Senhor Deus, Ezequiel também ouve uma voz. É um Deus que se importa em comunicar. Dele Ezequiel recebeu um rolo para digerir, mostrando a fonte de sua mensagem, e a necessidade de assimilação da mensagem divina na sua própria existência e experiência, antes que a transmitisse aos outros.
Adriano, conserva-te perto deste Senhor da Glória. Bebe da fonte pura e santa. Inunda a tua alma com a visão do teu Senhor e Rei. Sabe-tu bem o padrão e caráter daquele que tu serves. Assimila em teu ser a mensagem da palavra divina.
II. Em segundo lugar, Ezequiel teve revelação da tarefa difícil para o qual fora chamado. Nos versos 3 a 5 do capítulo 2, e nos versos 4 a 7 do capítulo 3, lemos a descrição realista da natureza e índole do povo a qual fora designado como mensageiro. Ezequiel foi dado uma revelação realista e instrutiva que o auxiliou a enfrentar a tarefa nos devidos termos.
Por vezes, o novo e jovem pastor subestima o potencial mau do coração humano. E quando enfrenta pelas primeiras vezes a realidade, ele já começa a duvidar de sua chamada para o ministério. Lembremo-nos da chamada de Isaías, de Jeremias, e de Ezequiel – todas elas foram chamadas colocadas em termos de enormes dificuldades, de auditórios que se endurecem diante da mensagem divina, e da necessidade imperiosa de declarar taxativamente a verdade sobre o juízo divino.
Deus revela isso de antemão a Ezequiel, então, para haver em nosso profeta uma concepção realista e nítida de que seria a luta que encara.
Como consequência disso, Ezequiel gasta os primeiros 32 capítulos da sua profecia em descrever o pecado do povo, em vaticinar a vinda da ira de Deus sobre os que restaram em Jerusalém; também as nações das circunvizinhanças teriam de sorver sua porção de vinho da ira de Deus. Agora, a audiência principal de Ezequiel é constituída dos exilados, ali na Babilônia, mas por meio do exemplo mau, e da promessa de punição desse mau, daqueles que restaram em Jerusalém e continuavam a sua desobediência descarada a Deus, os exilados seriam desafiados a virarem as costas para o mal a abraçarem-se com a vontade e a palavra de Deus.
Durante pelo menos sete anos Ezequiel pregou a um auditório que não deu crédito. Somente depois da notícia da queda de Jerusalém, prova de que Ezequiel falara a verdade, que o povo percebe sua situação realmente perigosa, e abre seus ouvidos e coração com sinceridade. Veja como Ezequiel descreve a atitude deles nos versos 31 a33 do capítulo 33. Depois, então, Ezequiel pode começar a esboçar o plano divino, cheio de esperança, de propósito e promessa de vitória nos capítulos 34 e seguintes.
Agora, sabemos que não é fácil tentar por sete anos mudar quem não quer ser mudado. Mas sabendo de antemão da situação, avaliando-a com realismo e fé, perseveraremos até que seja cumprido o nosso ministério.
Ali, quando tiver o povo demonstrado um arrependimento e consagração autênticos, poderemos, como Ezequiel, descrever as bênçãos da habitação de Deus no meio do seu povo, como ele fez nos capítulos 40 a 48 da profecia. Nisto, Ezequiel forma a primeira ponte entre a função simples de pregador e o ofício de prognosticador inspirado do plano futuro que Deus lhe ensinou.
Adriano, vejamos bem como é difícil a nossa tarefa. Terás que falar de juízo, de castigo, de inferno e morte espiritual. Terás que colocar de lado, de quando em quando, tua disposição para ser agradável e agradar. Mas a comissão divina inclue este lado negativo. Jeremias teve que arrancar, derribar e destruir antes de edificar e plantar. Virarão as costas, zombarão de tuas convicções quanto à palavra de Deus e sua interpretação, mas a palavra de Deus há de ser entregue, custe paz a quem custar, haja o que for de positivo ou negativo.
Lembra-te de que estamos falando dos recursos que Deus fornece aos servos dEle. O primeiro foi a revelação de sua glória, o segundo, a revelação realista da tarefa que nos espera.
III. O terceiro recurso é uma revelação animadora de que o mesmo Deus que nos chama também nos capacita. Há três expressões interessantes quanto ao que acontece na mente, no corpo e no coração de Ezequiel diante do que vê e ouve nesta experiência de chamada.
1. Primeiro, Ezequiel cai de rosto em terra. A visão da glória de Deus teria o mesmo efeito em qualquer um, como teve em Isaías, em João na ilha de Patmos, e outros de registro bíblico e da história eclesiástica. Mas Deus manda levantar-se, e aprontar-se para a mensagem, para a comunhão com esse mesmo Deus que momentos antes parece tão aterrador e distante. Nisto vejo o Pai de Jesus Cristo, o Deus do Novo Testamento, que nos aproxima, e nos pede que nos aproximemos dele também, em confiança, em amor, em gratidão – tudo pela obra do Advogado perfeito, Jesus Cristo. Mas Deus sempre foi assim, no Velho tanto quanto no Novo Testamento. Ele se importa conosco, com a plenitude de sua presença em nossas vidas, em nossos talentos, em todos os momentos de serviço ou de culto.
E, Adriano, para onde irás tu, senão a Deus, quando vieres as horas difíceis, as horas de rejeição pelos homens, nas tarefas esmagadoras que o ministério exige dos seus comissionados? Nunca se pode dizer que a frase "Orai sem cessar" seja mais apropriada do que para o ministro de Deus, para o pastor de almas. "Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo" é a ordem de todas as horas da vida de um pastor! É isso uma parte da capacitação dEle para nós.
2. Em segundo lugar, Ezequiel tem que comer um rolo. A expressão idêntica se encontra em Jeremias, e no Apocalipse. É figura da necessidade de assimilarmos primeiro a mensagem para a vida própria para depois transmiti-la. Há grandes perigos para o pastor ser oficioso, viver em função de corrigir os outros e não aplicar primeiro a mensagem para a vida dele antes de pregá-la. É a suma hipocrisia, contudo, esta atitude egoísta e desobediente. "Filho do homem, come o que achares, come este rolo, vai e fala à casa de Israel".
Ali no início do capítulo um, diz-se que a mão do Senhor esteve sobre Ezequiel. O que significa isso senão que havia evidência da presença e poder de Deus naquela vida? Ezequiel dava demonstração, marcas claras da presença e caráter divinos em tudo que era como homem. Não pela posição dele, mesmo que como sacerdote de uma família respeitada, recebesse honra dos seus correligionários. Foi pelo exemplo de uma vida coerentemente demonstrativa da mão de Deus que Ezequiel pode falar ao povo.
3. Terceiro, no capítulo dois, verso dois, vemos as seguintes palavras: "Então entrou em mim o Espírito, quando falava comigo, e me pôs em pé, e ouvi o que me falava". Há possibilidade de interpretar isso como um ânimo especial que vinha voltando ao profeta depois do susto levado diante da visão. Mas acho importante que os tradutores da nossa Bíblia puseram a palavra "Espírito" com letra "E" maiúscula, dando a entender que ao mesmo tempo que Deus exige que Ezequiel se ponha em pé, que Deus o fortalece por seu Espírito para cumprir a ordem. (cap. 3:24)
É sempre isso o que mais o anima – o fato de que Deus há de nos capacitar para fazermos a sua obra. Deus pediu que Ezequiel não temesse o povo obstinado, que não desfalecesse diante da dificuldade enorme de entregar uma mensagem antipática aos rebeldes israelitas, mas ao mesmo tempo deu ao profeta a testa de diamante que precisava para enfrentar a rejeição e rebeldia deles, e ser o atalaia que se esperava.
Como Jeremias, Ezequiel conseguia pregar com ardor e compaixão. Malgrado a rebeldia do povo, implora, em Ezequiel 18:30-32 que o povo se humilha diante de Deus e viva. Foi um profeta que soube comunicar com amor a mensagem da ira de Deus. Combinar a ira com o amor é impossível sem a graça de Deus e uma unção fortíssima do Espírito Santo.
CONCLUSÃO:
Em resumo, como foi a atitude de Ezequiel diante de tudo isso? Em primeiro lugar, Ezequiel manteve uma abertura para Deus – oração, consagração e submissão caracterizavam sua vida, sua maneira de enfrentar a tarefa e a obrigatoriedade divina dela. Em segundo lugar, Ezequiel manteve também uma abertura para o povo com o qual habitava. 3:14-15 diz isso com poder: "no meio deles" Ezequiel viveu, pregou e sofreu. Talvez aqui vá um pouquinho de espiritualização extremada. Mas Ezequiel foi um homem que não abandonou o cargo e a posição no meio do seu povo. Assemelha-se nisso a Jeremias, que, apesar do capitão caldeu oferecer-lhe a possibilidade de escapar destas pressões de uma nação recalcitrante e rebelde que não deu ouvidos em mais de quarenta anos de ministério, Jeremias preferiu ficar com os seus, e até foi levado cativo por seu próprio povo ao Egito como prisioneiro e involuntário. A perseverança de Jeremias em amar face a toda a incompreensão deles nos desafia quanto à atitude que mantemos. Tantos teriam desistidos! Quando o ministério de um lugar, de uma igreja difícil, de um povo rebelde, nos assediar, qual será a nossa atitude para com o povo? Abandonaremos o posto? O nosso amor perdurará como o de Ezequiel e de Jeremias?
Adriano, nosso desejo ardente para ti nesta tarde é que possa capturar uma visão magnífica da gloria de Deus em tua vida pessoal para ser a base do teu ministério; também, anelamos para ti um entendimento realista da tarefa que te espera; além de tudo, queremos que saibas da graça com que Deus embuirá tua vida de poder, sabedoria e qualidades necessárias para desempenhar uma das carreiras mais difíceis na face da terra, e cujas consequência são inestimavelmente importantes, e de alcance eterno.
Que Deus te abra o coração, a visão, e a mente para saber das revelações de que acabamos de falar, para o desempenho da obra que deves evitar a qualquer custo a não ser na obrigação clara do Espírito de Deus para isso!
Um comentário:
TRÊS COISAS QUE A BÍBLIA NOS ENSINA
1. Deus dirige a história.
2. Deus usa seres humanos e outros seres para cumprir os seus propósitos no mundo.
3. Deus não divide sua glória com ninguém.
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