Cheguei a São Paulo em 1959. Tinha 16 anos de idade. Sabia ler e escrever, mas não tinha qualquer diploma, nem do curso primário, que naquele tempo tinha a duração de quatro anos.
Pela misericórdia de Deus, fui trabalhar como office-boy numa multinacional alemã, onde o presidente e todos os diretores de departamentos eram alemães.
Algum tempo depois, fui escolhido para trabalhar na sala da secretária do presidente. A primeira coisa que eu fazia todos os dias pela manhã era pegar um espanador e entrar na sala do presidente para espanar o pó da mesa dele e da mesa de reuniões que ficava na mesma sala.
Um dia, enquanto eu fazia aquele trabalho diário, o espanador bateu com força num dos dois cinzeiros que estavam na mesa de reunião, o cinzeiro caiu e quebrou. Peguei outro, diferente, coloquei no lugar do que quebrou. Pensei que o presidente não ia notar.
Em seguida, ele chegou, deu o seu costumeiro bom dia e entrou para a sala dele. Não demorou muito, a campainha tocou, era o jeito que ele usava para me chamar. Eu entrei, ele perguntou pelo cinzeiro. Eu disse o que tinha acontecido. Ele me deu a maior bronca. Disse que era um cinzeiro de estimação que ele tinha trazido da Espanha. Eu saí da sala, triste e com sentimento de culpa.
Em seguida, a campainha tocou novamente. Eu pensei, lá vem mais bronca. Eu estava enganado. Ele me chamou para pedir desculpas. Ele disse: “Adriano, desculpe-me, eu sou muito temperamental”.
Nunca me esqueci desse fato. Não sei qual era a religião daquele homem. Não sei se era católico ou protestante. Nem mesmo sei se ele tinha alguma religião. Mas uma coisa eu sei, ele teve a grandeza de chamar um humilde office-boy para lhe pedir desculpas.
Parafraseando Jesus Cristo, eu digo, “Humildade assim, não encontrei nem entre aqueles que se dizem povo de Deus”.
Adriano Pereira de Oliveira.
Tapiraí, São Paulo, Brasil, 1 de agosto de 2017.
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